Mestre Espedito - mestre em processamento de couro

Espedito Veloso de Carvalho, mais conhecido como Mestre Espedito Seleiro, é um seleiro brasileiro que domina a fina arte do artesanato em couro. Nascido em 29 de outubro de 1939 em Arneiroz, cidade do Sertão dos Inhamuns, Ceará, ele personifica a cultura e a criatividade do Ceará e é considerado uma personalidade importante do nordeste brasileiro.

Filho de um vaqueiro, Espedito aprendeu o ofício de seleiro com seu pai aos oito anos de idade. Ele fabricava selas e outros equipamentos para vaqueiros, tropeiros e cangaceiros. A morte prematura de seu pai o deixou com dez filhos e algumas ferramentas.

Espedito, como o filho mais velho, começou a sustentar a família fabricando selas. Na época, eles moravam em Nova Olinda, no estado do Ceará, em um momento em que a maior seca do século XX no nordeste do Brasil, de 1979 a 1984, devastou o país e a consequente crise do gado tornou cada vez mais difícil a venda de equipamentos para os vaqueiros.

Espedito começou a fabricar sapatos, bolsas, chapéus, carteiras, bancos, poltronas, selas, gibões e outros itens de couro. Ele faz suas peças com couro de cabra e couro de vaca, que ainda é produzido tradicionalmente em várias cidades do nordeste. Suas peças combinam arte moderna com artesanato tradicional e são muito populares em todo o mundo.

Alguns produtos são particularmente característicos do mestre artesão. Entre eles estão as sandálias “Lampião” e “Maria Bonita”. Essas sandálias foram inspiradas em uma história contada por seu pai. Ele disse que um cliente chegou com um desenho de uma sandália “quadrada” e a encomendou. Alguns dias depois, o cliente pegou as sandálias e reconheceu sua qualidade. O cliente acabou se revelando um bandido do bando do “Capitão Virgulino”. A sandália quadrada tinha uma função prática para a quadrilha. Elas não deixavam rastros na areia do sertão.
Anos depois, Espedito fez uma sandália para o músico Alemberg Quindins. Alemberg foi o fundador da Fundação “Casa Grande - Memorial do Homem Kariri”. A sandália era exatamente igual à de Lampião. Logo depois, ele também criou a sandália Maria Bonita.

Sua esposa fazia artigos de couro, incluindo bolsas e sacolas. Ela começou a usar cores. Espedito tornou-se um pesquisador de pigmentos naturais e técnicas de tingimento de couro. Ele descobriu o “angico”, uma árvore decídua da família das leguminosas que tinge de marrom. Também descobriu o “urucum”, as sementes vermelho-amareladas do arbusto orlean, que tingem de vermelho, e a “cinza de grama”, que tinge de branco. Com o tempo, ele desenvolveu sua própria estética. Ele dava grande importância ao design e às cores. Isso foi resultado da influência dos ciganos. Ele admirava essas pessoas e ficou fascinado por suas roupas e joias desde muito jovem.

Oficina na Escola Espedito Seleiro

Um dia, Espedito se deu conta de que, com a morte de seu pai, o conhecimento poderia se perder. Era um conhecimento que já havia sido transmitido por seu tataravô. Portanto, ele decidiu ensinar o ofício primeiro a seus irmãos. Em seguida, ensinou-o aos filhos e, mais recentemente, aos netos. Mais tarde, ele fundou a “Oficina Escola Espedito Seleiro”. Essa escola ensina não apenas o ofício, mas também a percepção de que esse know-how faz parte de uma cultura viva. É um modo de vida que pode continuar vivo em cada pessoa.
O Espedito agora é reconhecido como um mestre da cultura. O governo do estado do Ceará e o Ministério da Cultura o reconheceram oficialmente. Em 2017, a Universidade Estadual do Ceará (Uece) lhe concedeu o título de Notório Saber.

Mestre Espedito;
Algumas pessoas entram em meu estúdio e perguntam꞉ “Por que cada uma de suas obras tem um coração?” Eu respondo꞉ “Porque eu faço com todo o meu coração”.